África ultrapassou nas últimas 24 horas os 1,2 milhões de infectados pelo novo coronavírus, quase duplicando as infecções em pouco mais de um mês, e contabilizando mais 342 mortos em relação ao dia anterior, segundo dados oficiais.
O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), que reúne os dados dos 55 membros desta organização, refere que a região conta agora com 1.202.918 infectados, mais 7.621 do que terça-feira.
A meio de Julho, os casos de Covid-19 em África eram sensivelmente metade (625.702 a 15 de Julho). Em relação às vítimas mortais, elas ascendem agora a 28.934, mais 342 do que no dia anterior. Na região foram dados como recuperados da doença 931.057 infectados.
A África Austral regista o maior número de casos e de mortos devido ao novo coronavírus: 654.558 infectados e 14.226 mortos.
Só a África do Sul, o país mais afectado do continente e o quinto a nível mundial, contabiliza 613.017 casos e 13.308 mortes.
O norte de África é a segunda zona mais atingida pela pandemia, com 216.099 doentes infectados e 8.130 mortos, seguindo-se a África Ocidental: 156.604 infectados e 2.348 mortos.
A África Oriental contabiliza 122.782 casos e 2.545 mortos devido à Covid-19, enquanto na África Central estão contabilizados 52.875 infectados e 1.027 vítimas mortais do novo coronavírus.
O Egipto, que é o segundo país com mais vítimas mortais, a seguir à África do Sul, regista 5.298 mortos e 97.619 infectados, seguindo-se a Argélia, com 1.443 mortos e 42.672 infectados.
Entre os cinco países mais afectados, estão também a Nigéria, que regista 52.800 infectados e 1.007 mortos, e o Sudão: 12.974 infectados e 819 mortes.
Entre os países africanos lusófonos, Cabo Verde lidera em número de casos (tem hoje 3.568 casos e 37 mortos), seguindo-se Moçambique (3.508 casos e 37 mortos), Angola (2.283 casos e 102 mortos), de acordo com os dados divulgados pelas autoridades oficiais destes países.
Os casos na Guiné-Bissau (2.205 infecções e 34 mortos) e São Tomé e Príncipe (891 casos e 15 mortos) foram os divulgados pelas autoridades oficiais destes países na segunda-feira.
A Guiné Equatorial, que integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), actualizou no passado dia 23 os dados e registou 4.926, um aumento de 34 pessoas face aos 4.892 infectados registados a 1 de agosto, e 83 óbitos, número que mantém desde o princípio do mês.
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egipto em 14 de Fevereiro e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infecção, em 28 de Fevereiro.
A pandemia de Covid-19 já provocou pelo menos 809 mil mortos e infectou mais de 23,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
No reino do vale… tudo
A 20 de Abril o Presidente de Madagáscar, Andry Rajoelina, lançou um produto para a prevenção e cura da Covid-19, ainda que a sua eficácia não tivesse sido objecto de qualquer estudo científico publicado. O chefe de Estado assegurou, no entanto, que “foram realizados testes” e que “duas pessoas foram curadas com este tratamento”.
“Este chá de ervas dá resultados em sete dias”, afirmou o Presidente junto de ministros, embaixadores e jornalistas no Instituto Malgaxe de Investigação Aplicada (IMRA, na sigla inglesa), que desenvolveu a bebida.
O Presidente de Madagáscar ingeriu a bebida, chamada “Covid-Organics”, preparada a partir de artemísia, uma planta utilizada no tratamento da malária, e de outras ervas. “Vou ser o primeiro a beber isto hoje, à vossa frente, para vos mostrar que este produto cura e não mata”, vincou o chefe de Estado malgaxe.
Embora reconheça que algumas das ervas possam aliviar sintomas do coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não há provas que sustentem que estas possam prevenir ou curar a doença.
Andry Rajoelina rejeitou qualquer reserva sobre a eficácia do produto que apresentou e defendeu que este poderá ser entregue nas escolas.
“A Covid-Organics será utilizada na profilaxia, ou seja, na prevenção, mas as observações clínicas mostraram uma tendência para a sua eficácia no tratamento curativo”, afirmou o director-geral do IMRA, Charles Andrianjara. Na mesma altura o confinamento das três principais cidades malgaxes começou a ser levantado.
A guerra das vacinas… sérias
O Estado alemão adquiriu uma participação de 23% na empresa biofarmacêutica CureVac, que tem uma das investigações mais desenvolvidas do mundo para a vacina contra o Covid-19. O executivo de Angela Merkl investiu 300 milhões de euros, que foram financiados pelo Banco de Crédito Alemão para a Reconstrução e Desenvolvimento (KfW).
O objectivo desta entrada do Estado alemão no capital social da empresa tem como objectivo “fornecer segurança financeira à empresa, sem influenciar as decisões nos seus negócios”, para que sejam evitados investimentos estrangeiros suspeitos. Entre os quais está o anunciado desejo de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, em financiar esta empresa em troca da cedência dos direitos exclusivos da patente da vacina.
Em Junho, a CureVac, que é propriedade do presidente do clube de futebol Hoffenheim, recebeu autorização por parte do Instituto Paul Ehrlich para iniciar os ensaios clínicos da vacina em pessoas.
“Esta autorização é o resultado de uma avaliação meticulosa do potencial perfil risco-benefício da possível vacina. O teste de possíveis vacinas em pessoas é um marco importante no caminho para a aprovação de vacinas seguras e eficazes contra o Covid-19”, declarou aquela instituição no comunicado que validou as experiências médicas.
168 voluntários saudáveis participam da primeira fase do estudo clínico, dos quais 144 vão receber a vacina desenvolvida pela CureVac, que é a segunda empresa alemã a avançar para a fase de testes em humanos, depois da BioNTech.
Alguns cientistas deixaram os seus cargos em farmacêuticas globais no Canadá para estabelecer uma empresa de biotecnologia a meio mundo de distância em Tianjin, na China, na esperança de produzir vacinas ao nível das dos países ocidentais.
Agora, essa empresa, a CanSino Biologics, está no centro das atenções globais, figurando entre os líderes na corrida por uma vacina contra o coronavírus.
O CEO da CanSino, Yu Xuefeng, nascido na China e ex-executivo da unidade canadiana de vacinas da farmacêutica Sanofi, mantém contactos no Canadá e na China, mesmo numa altura em que as divergências geopolíticas polarizam os dois países. Yu reforçou as proezas científicas da sua empresa ao associar-se à maior organização de pesquisa do governo canadiano. Na terra natal, trabalhou com uma destacada cientista militar chinesa, primeiro com uma vacina contra o ébola, e agora, com a vacina experimental para o coronavírus da CanSino.
Em Maio, a CanSino tornou-se a primeira empresa, a nível global, a publicar um estudo científico completo sobre os seus primeiros testes em humanos, um passo importante porque permite que investigadores de todo o mundo avaliem o potencial da vacina.
A empresa – que ainda não gera receitas e registou prejuízos de 22 milhões de dólares no ano passado – conseguiu até agora acompanhar e, por vezes, superar gigantes farmacêuticas ocidentais com a velocidade dos seus testes iniciais à vacina contra o coronavírus. A pesquisa ainda é muito incipiente para saber se a vacina da CanSino, ou mesmo de qualquer outra empresa, será a tiro de partida que os países procuram para reabrir as economias no contexto da pandemia. Mas as incursões da CanSino mostram que a jovem indústria de biotecnologia da China é uma concorrente global e uma ferramenta poderosa para o presidente Xi Jinping.
A CanSino “tem mérito pela velocidade com que avançou com a vacina em estudos pré-clínicos e testes em humanos”, disse Wang Ruizhe, à Bloomberg, analista do sector farmacêutico da Capital Securities, em Xangai: “Isso diz algo sobre a capacidade deles de mobilizar e alavancar os recursos necessários para realizar tudo isso. Os recursos necessários são significativos”.
Um porta-voz da empresa chinesa disse, em Maio, que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, apoia os investigadores canadianos que trabalham em ensaios clínicos para uma vacina contra o coronavírus com a CanSino.
A indústria farmacêutica da China tem sido perseguida por incidentes de segurança e escândalos relacionados com a qualidade. Mas, nos últimos anos, partes dessa indústria tornaram-se com o regresso ao país de centenas de cientistas chineses treinados no Ocidente.
Chamados de “hai gui”, ou “tartarugas marinhas”, esses retornados capitalizaram os relacionamentos e a experiência adquirida em países como os EUA e o Canadá e criaram novas empresas. O CEO da CanSino, Yu, de 57 anos – doutorado em microbiologia pela Universidade McGill do Canadá e chefe do desenvolvimento e produção de vacinas da Sanofi Pasteur no Canadá – pertence a essa nova geração de executivos.
No prospecto da oferta pública de 2019 da CanSino em Hong Kong, Yu descreveu as escolhas difíceis que ele e os seus colegas fizeram para criar o seu caminho de volta à China.
“A maioria das nossas famílias ficou no Canadá e só podíamos vê-las algumas vezes por ano”, escreveu. “Quando pensas nos filhos pequenos e adolescentes a crescer sem pais, quando sabes que a tua mulher teve de tirar sozinha mais de 20 centímetros de neve ao início da manhã com o vento a -20 ° C – esses foram os momentos difíceis.”
O nome CanSino representa os caracteres chineses da saúde, esperança e promessas, enquanto em inglês é uma combinação de Canadá e China. Além de Yu, há outros altos funcionários da empresa com ligações ao Canadá. O Director Científico Zhu Tao também foi cientista da Sanofi Pasteur no Canadá.
Em Fevereiro de 2014, cerca de cinco anos após o regresso à China, Yu licenciou uma tecnologia do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá chamada linhas de células HEK 293, necessária para produzir grandes quantidades de uma vacina de forma confiável. Essa ciência passou a sustentar em parte a tecnologia de vectores virais da CanSino.
Um vector viral é um vírus geneticamente modificado que já não é prejudicial aos seres humanos, mas que pode servir como um veículo para transportar os genes de outro germe para preparar o sistema imunológico para o ataque. Poucas empresas chinesas possuíam essa tecnologia em 2014, quando uma investigadora do exército chinês, chamada Chen Wei, começou a pesquisar mais sobre vectores virais para produzir uma vacina que pudesse conter o surto de Ébola em África.
Chen chefiou o Instituto de Biotecnologia da Academia de Ciências Médicas Militares do país. Depois, passou a trabalhar com a CanSino para desenvolver uma vacina contra o Ébola que, em 2017, foi aprovada na China para uso de emergência e armazenamento nacional.
O longo relacionamento da CanSino com Chen foi frutífero, mais uma vez, este ano. A CanSino e a equipa de Chen realizaram estudos pré-clínicos da vacina contra o coronavírus – chamada Ad5-nCoV – e garantiram a ajuda de Pequim em tudo, desde o isolamento de estirpes do vírus até testes em animais.
A equipa iniciou testes clínicos em humanos em Wuhan, a cidade chinesa onde o coronavírus surgiu pela primeira vez, a 16 de Março.
A Moderna Inc., com sede em Massachusetts, considerada um dos melhores candidatos a produzir uma vacina americana, iniciou os seus testes nos EUA no mesmo dia. Menos de um mês depois, a CanSino iniciou a segunda fase de testes em larga escala em humanos. A 22 de Maio, quando publicou um estudo na revista médica The Lancet, os resultados foram mistos: a vacina parecia segura e gerou alguma resposta imune, mas houve algumas deficiências.
A tecnologia do vector viral pode ter limitações quando algumas pessoas já têm imunidade pré-existente ao vírus do vector usado para criar a vacina. Foi o caso do adenovírus, um vírus geneticamente alterado que a CanSino usou para a sua vacina. Muitos dos pacientes com imunidade ao adenovírus pré-existente apresentaram uma resposta reduzida à injecção de coronavírus no estudo da Lancet.
Os laços dos fundadores da CanSino com o Canadá estão mais uma vez a revelar-se proveitosos, numa altura em que a empresa se prepara para começar a fase três de testes à sua vacina. Ainda assim, pode haver desafios na realização dos vários estudos que são necessários nos estágios finais, se as novas infecções por coronavírus continuarem a diminuir no Canadá.
Investigadores do Centro Canadiano de Vaccinologia da Universidade Dalhousie, que lideram os ensaios clínicos, disseram que esperam iniciar os estudos da Fase III da vacina da CanSino já neste outono. O Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá disse que, se a vacina for aprovada pelas autoridades locais, poderão ser produzidas doses para uso de emergência no Canadá.
A CanSino não é, porém, a única empresa bem posicionada na corrida pela vacina. A Moderna tem planos para testar a sua vacina em 30.000 pessoas nos EUA em Julho, enquanto um estudo em estágio inicial da Pfizer Inc. e da BioNtech mostrou que a sua vacina é segura e que levou os pacientes a produzirem anticorpos contra o coronavírus. Uma vacina co-desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca Plc também iniciou a etapa final dos testes em humanos no Brasil em Junho.
Folha 8 com Agências